Cura Quântica

"O corpo mecânico quântico é a base fundamental de tudo o que somos: pensamentos, emoções, proteínas, células, órgãos". A frase é do livro Saúde Perfeita, do ayurveda indiano Deepak Chopra, que busca fazer uma síntese entre o ayurveda e a física moderna. Não estranhe se você não tiver entendido o que ele quer dizer. Afinal, se fosse fácil, Richard Feynman, um dos físicos mais brilhantes que passaram pelo mundo, não teria escrito: "Posso dizer sem medo de errar que ninguém entende a mecânica quântica".

Nem todo mundo simpatiza com a tentativa de Chopra de explicar um sistema milenar com ciência moderna. Na verdade, a maioria dos cientistas fica arrepiada só de ouvir falar nisso. "Não há razão para estabelecer qualquer relação entre conceitos da física de partículas e a medicina ayurvédica ou qualquer outro tipo de medicina", diz o bioquímico e professor de medicina alternativa Thomas J. Wheeler, da Universidade de Louisville, Estados Unidos. "Os efeitos da mecânica quântica raramente têm importância em escalas maiores que a subatômica", afirma.

Então por que misturar física quântica com ayurveda? Talvez seja pela busca da junção entre o raciocíonio analítico da nossa ciência e a concepção de mundo holística do Oriente. Para a nossa sociedade, a ciência é a autoridade máxima, que separa o que é verdade do que não é - sua sanção é essencial para qualquer teoria.

Se é assim, então, o que é que a ciência diz do ayurveda? Pouco. O Comitê de Ciência e Tecnologia do Parlamento Britânico, num amplo relatório sobre terapias médicas alternativas lançado em 2000, concluiu que a medicina tradicional indiana, assim como a chinesa, é um sistema tão complexo e fechado que dificilmente pode ser comprovado ou desmentido. Claro que é possível testar em laboratório tratamentos específicos do ayurveda, e compará-los com equivalentes ocidentais. Mas as diferenças entre as visões de mundo são tão grandes que bem poucos estudos sérios foram realizados até hoje e os que foram trouxeram resultados que nos deixam longe de uma conclusão.

O que poucos médicos negam é que o paradigma indiano tem algumas idéias interessantes: a tese de que cada paciente deve ser tratado de um jeito, por exemplo, soa muito moderna. E a de que devemos olhar as pessoas, e não só as doenças, também tem ganho uma crescente aceitação no Ocidente. Por outro lado, é difícil negar que uma medicina que conta com microscópios eletrônicos, aparelhos de ressonância magnética e décadas de acúmulo de dados estatísticos tem condições melhores de fazer diagnósticos e de buscar curas.

Além disso, alguns tratamentos do ayurveda são muito criticados. "O sistema inclui terapias de purificação e eliminação que a medicina rejeita e que podem ter efeitos efeitos perigosos", diz Wheeler. Sem falar que se empregam remédios como sangue e urina, o que não tem nenhuma validação científica. "O ayurveda incorpora elementos religiosos, mágicos e supersticiosos da Antiguidade, o que é incompatível com a medicina científica", afirma o bioquímico.
A verdade é que qualquer tentativa de entender o ayurveda com olhos ocidentais vai ser no mínimo incompleta. E que qualquer conclusão para esta reportagem é no mínimo simplista. O ayurveda não é "cientificamente comprovado", não nos percamos nessa discussão. Ele é o fruto de um modo de pensar cuja origem se perde no tempo, e propõe um estilo de vida baseado nessa experiência acumulada. Ir a um terapeuta ayurvédico esperando "eficácia", ou mesmo "cura" - conceitos bem ocidentais - é perda de tempo. Mas tratar-se desse modo é um mergulho quase arqueológico numa visão bem diferente do Universo - o que não deixa de ser fascinante.

Fonte: Super Interessante

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