A palavra Yoga vem do sânscrito “yuj” que significa harmonizar-se com a fonte de energia que nos dá vida. Num processo sistemático de treinamento do corpo e da mente, o yogi busca gradualmente atingir esse estado de união, livrando-se das barreiras criadas pela mente, e alcançando um estado de paz interior contínuo.
Patanjali, no clássico texto Yoga Sutras, definiu yoga como sendo “o cessar das oscilações da mente”. Em palavras simples, isso significa ganhar a capacidade de estarmos no Presente. Normalmente, isso não acontece. O nosso Presente é muito pequeno e limitado, sendo constantemente perturbado pelas nossas imaginações quanto ao passado e quanto ao futuro. O fato é que raramente estamos no presente, justamente porque a nossa mente oscila muito. E isso traz agitação, ansiedade, estresse, falta de paz.
Justamente sabendo da natureza de nossa mente distrair-se com facilidade e perder o momento presente, os yogis há cerca de 5.000 anos foram desenvolvendo diferentes abordagens para trazer a mente de volta ao Presente.
Diversos caminhos, então, foram surgindo. A Hatha Yoga, que é mais conhecida no Ocidente com suas posturas físicas e respirações. Raja Yoga, com a meditação. Karma Yoga, através da ação no dia-a-dia. Jnana Yoga, com a auto-observação. Bhakti Yoga, com a devoção. E tantos outros caminhos que foram surgindo para servir como plataforma ao Presente. O mais importante é que, através de qualquer desses caminhos, o yogi chega a mesma meta, ao “yuj”, fundindo as suas oscilações mentais com o Presente, alcançando a paz interior.
Mais recentemente foi criado por um yogi e médico indiano, Dr. Madan Kataria, um outro sistema de práticas, chamado Yoga do Riso (Hasya Yoga). Nesse sistema, jogos lúdicos, exercícios respiratórios, risadas e relaxamento intercalam-se para auxiliar a manter a mente do praticante no Presente.
Muitos yogis inflexíveis, que não conhecem a Hasya Yoga (Yoga do Riso), podem dizer que o Riso não é Yoga. Em minha opinião pessoal, de quem pratica Yoga tradicional e meditação regularmente nos últimos 10 anos, isso é um equívoco. O Riso pode, sim, lhe auxiliar no processo de alcançar o estado de Yoga, de “yuj”, de harmonia com a nossa fonte de energia vital.
Tenho várias boas razões para dizer isso. Vamos a elas?
1) Exercício respiratório profundo. Quando se dá gargalhadas, estamos expirando o ar e esvaziando mais completamente o pulmão. Assim, permitimos uma inspiração mais profunda, recebendo mais prana (energia vital). No dia-a-dia expiramos muito superficialmente, deixando cerca de 75% do ar estagnado no pulmão. Ao rir, expulsamos com mais facilidade o ar residual do pulmão e criamos espaço para uma inspiração com melhor qualidade.
2) Clareza Mental e Energia. Resultado dessa melhor oxigenação é ter mais energia disponível para o corpo e mente, trazendo clareza mental e disposição. Sem clareza mental e disposição, impossível prosseguir até a meta final da Yoga.
3) Maior amplitude do diafragma. O diafragma é um órgão essencial para o movimento de nossa respiração. No dia-a-dia, o seu movimento é restrito e curtinho, deixando nossa respiração superficial. Com diversas técnicas do riso, bem como os exercícios de aquecimento “HOHO HAHAHA”, estimulamos a amplitude do movimento do diafragma, melhorando a qualidade da respiração. Ou seja: mais respiração, mais energia, mais clareza mental, mais próximo de um estágio de Yoga.
4) Contentamento (Santosha). Contentamento é uma das bases da Yoga. É ser feliz sem motivo aparente. Estar contente em qualquer condição é uma prática espiritual poderosa. Parece simples, mas não é. Normalmente nossa felicidade/contentamento está limitada por condições externas como um bom emprego, boa família, dinheiro etc. Na Yoga busca-se a felicidade permanente, interior, sem condições. O Riso estimula glândulas no cérebro que secretam hormônios associados ao contentamento e bem estar. Ou seja: através do riso fica mais fácil alcançar “santosha”, pois se temos hormônios positivos no cérebro será mais provável lidarmos positivamente com situações difíceis.
5) Relaxamento profundo. O riso lhe coloca numa posição muito favorável para alcançar estágios profundos de relaxamento. Após uma série de exercícios de riso e respiração, surge o momento ideal para mergulhar no relaxamento, facilitando o processo de interiorização da mente (pratyahara).
6) Meditação. Quando conseguimos relaxar e interiorizar a mente, surge a oportunidade de nos conhecermos melhor através da meditação e auto-observação. Fica muito mais fácil fluir num estágio meditativo após uma sessão de riso do que se tentássemos meditar sem nenhum exercício anterior.
7) Yoga. O riso nos auxilia a relaxar, redirecionar a energia de nossa mente para dentro, com a plena percepção do Presente, sem distrações e preocupações do passado ou futuro. Assim, passamos a olhar com mais clareza para a nossa complexa existência, que se inter-relaciona com todas as Existências. Lampejos dessa união com todas as Existências virão com a regularidade na prática, nos trazendo paz indescritível. E pouco a pouco, os lampejos vão se estabilizando até se alcançar um estágio permanente de percepção do Todo, que é, enfim, o objetivo da Yoga.
Prática espiritual não implica necessariamente em caras carrancudas e sérias. Veja alguém muito elevado espiritualmente, como o Dalai Lama. Lembra do sorriso dele? Pois bem...
A disciplina, claro, é necessária. Mas ela não precisa lhe trazer uma carranca na face. Ela pode ser leve!
Sorrir torna tudo mais leve e coloca a sua mente num estágio favorável a continuar a batalha de conhecer a Si mesmo mesmo diante das pressões do mundo.
Namaste e boas risadas!
Henrique Saad: no caminho da Yoga desde 2005, dá aulas e retiros de Yoga tradicional e Yoga do Riso na Chácara Anahata, em São Roque - www.chakraanahata.org - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.